nunca se sabe o que nos pode passar pela cabeça

Vivo a procurar saber se estou vivo, se estou a sonhar, se vivo sonhando, ou se sonho vivendo. Não agito os comuns problemas existenciais do amor e da morte, apenas me coloco, sempre que posso, no lugar de observador. E, de certa maneira, sou quase feliz porque não pretendo sê-lo de qualquer maneira.
António José Costa Carneiro | Cria o teu cartão de visita

23/04/10

A chama azul do fogareiro













Eu e minha octogenária mãe, estávamos a almoçar enquanto na televisão dava o programa da Praça da Alegria na RTP. Ouvimos uma fulana a falar do livro que escreveu sobre a sua vida e o episódio que a marcou para sempre quando ela era uma criança de 3 anos.
A minha mãe disse-me que também um dia apanhou um susto enorme mais ou menos no princípio do seu casamento quando eu ainda gatinhava.
Aconteceu que, por breves instantes me deixou sozinho em casa, na cama a dormir, enquanto foi à mercearia comprar qualquer coisa que lhe fazia falta para cozinhar. Em cima de uma mesa deixou um fogareiro de petróleo, comprado havia pouco tempo, com uma panela de sopa de feijão ao lume, tal como contava a entrevistada da tv.
Quando regressou, andava eu a gatinhar debaixo da mesa e tentava agarrar-me ao que estivesse à mão para me pôr de pé e alcançar o que estivesse em cima da mesa.
Contrariamente ao que aconteceu com a autora do livro que se queimou gravemente em todo o corpo quando se agarrou ao fogareiro, entornando sobre si a sopa da panela, eu fui salvo pela minha mãe. Foi o que me disse, emocionada  com a recordação triste e impressionada também com o trágico testemunho da escritora.
Nunca tinha ouvido falar deste episódio da minha vida que associado ao depoimento da tv me fez pensar na importância que, sem darmos conta, o acaso tem em toda a nossa aventura neste mundo.
Se a minha mãe se tivesse atrasado uns segundos que fosse no regresso a casa talvez.....e toda a minha história seria diferente depois disso.
Nunca se sabe.
Não sei se foi sugestão da história no meu cérebro ou se correspondeu mesmo a um reavivar de uma memória adormecida mas, de repente, pareceu-me ver nitidamente, numa perspectiva do chão para cima, uma chama azul de um fogareiro contra um fundo de panela com mancha preta de fuligem..
Até agora, passados quase cinquenta anos, me apetecia tocar!
Como era atractivo e lindo aquele azul!

aj carneiro

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