nunca se sabe o que nos pode passar pela cabeça

Vivo a procurar saber se estou vivo, se estou a sonhar, se vivo sonhando, ou se sonho vivendo. Não agito os comuns problemas existenciais do amor e da morte, apenas me coloco, sempre que posso, no lugar de observador. E, de certa maneira, sou quase feliz porque não pretendo sê-lo de qualquer maneira.
António José Costa Carneiro | Cria o teu cartão de visita

10/07/10

pela verdade

Sócrates condenado à morte pelo povo de Atenas, prepara-se para beber uma taça de cicuta, rodeado pelos seus amigos. Na primavera de 399 a.C. puseram o filósofo na justiça. Acusaram-no de se negar a adorar os deuses da cidade, de ter novas ideias religiosas e de corromper a juventude de Atenas – de tal modo agravaram a acusação que foi pedida para ele a pena de morte.

Sócrates respondeu com o seu carácter forte. Embora lhe fosse concedida uma oportunidade de renunciar em tribunal à sua filosofia e assim salvar-se, no entanto escolheu aquilo que ele acreditava ser a verdade em vez de escolher aquilo que outros queriam.


E assim o levaram para uma prisão ateniense, tendo a sua morte ficado marcada na história da humanidade.


Ele só tinha 38 anos.


O povo, com a sua sabedoria infinita, costuma dizer que mais vale um covarde vivo do que um herói morto. Pelo que se sabe o ateniense não concordava com o ditado.


Quantos livros de ideias suas a humanidade perdeu por  ele ser íntegro e morrer tão novo?
Não custa admitir que o mundo de hoje seria muito diferente do que é se pelo menos ele defendesse a própria vida fingindo renegar a sua verdade. O problema que se levanta é que se a história fosse diferente e ele tivesse aceitado a oportunidade que lhe deram para se salvar, tornando-se assim num covarde sobrevivente também, nesse caso, toda a evolução da humanidade teria sido outra a partir daí e eu, por exemplo, não estaria aqui hoje a falar disto.


Vá-se lá saber quantas possibilidades de civilização podiam existir para o "hoje" se cada um dos homens notáveis ao longo dos séculos tivessem escolhido, nos momentos cruciais, as opções opostas daquelas que tomaram.


Também imagino Sócrates, nos dias que correm, a pensar no que fazer perante uma cena idêntica de tribunal. (Claro que não estou a esquecer que a sociedade actual seria diferente se o filósofo não tivesse existido na antiguidade para estar hoje em tribunal, mas o exercício da imaginação tem a liberdade total, esqueçamos por agora esse pormenor)


Eu, se estivesse ao lado dele numa situação dessas, pedir-lhe-ia que se lembrasse do ditado popular do herói morto e escolhesse a vida porque enquanto há vida há também a esperança de a verdade poder se levantar do chão em que a derrubaram.


"Eppur si muove" - quando assim falou Galileu, uns séculos mais tarde, numa situação parecida, teve uma atitude diferente da de Sócrates.


aj carneiro

Sem comentários:

Enviar um comentário