ONDE QUER QUE TE INVENTE
II
Harmonioso vulto que em mim se dilui./ Tu és o poema/ e és a origem donde ele flui./ Intuito de ter. Intuito de amor/ não compreendido./ Fica assim amor. Fica assim intuito./ Prometido.
VI
Aumentamos a vida com palavras/ água a correr num fundo tão vazio./ As vidas são histórias aumentadas./ Há que ser rio./ Passamos tanta vez naquela estrada/ talvez a curva onde se ilude o mundo./ O amor é ser-se dono e não ter nada./ Mas pede tudo.
VII
Tu pedes-me a noção de ser concreta/ num sorriso num gesto que abstrai/ a minha exactidão em estar repleta/ do que mais fica quando de mim vai./ Tu pedes-me uma parcela de certeza/ um desmentido do meu ser virtual/ livre no resultado de pureza/ da soma do meu bem e do meu mal./ Deixa-me assim ficar. E tu comigo/ sem tempo na viagem de entender/ o que persigo quando te persigo./ Deixa-me assim ficar no que consente/ a minha alma no gosto de reter-te/ essencial. Onde quer que te invente.
(Natália Correia, O livro dos amantes in Poemas)
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