nunca se sabe o que nos pode passar pela cabeça

Vivo a procurar saber se estou vivo, se estou a sonhar, se vivo sonhando, ou se sonho vivendo. Não agito os comuns problemas existenciais do amor e da morte, apenas me coloco, sempre que posso, no lugar de observador. E, de certa maneira, sou quase feliz porque não pretendo sê-lo de qualquer maneira.
António José Costa Carneiro | Cria o teu cartão de visita

21/02/10

colocar os contadores da vida a zeros


Há certas alturas em que o melhor que temos a fazer é colocar todos os contadores da nossa existência a zeros e seguir um caminho novo. A vida desponta novamente com novas ambiências de cada vez que algo termina e só o presente existe - o eterno agora. O passado é apenas uma memória, uma construção selectiva, e deve servir como referência, como base do conhecimento individual adquirido, como um guia suporte para a tomada de decisões; enquanto que o futuro não é mais que uma conjectura.
O tempo, o silêncio, o amor, a luz...são mistérios aparentemente irresolúveis, uma evidência da nossa enorme ignorância. A única certeza que temos é a de que um dia havemos de morrer e mesmo assim vivemos como se fossemos eternos. 
A vida é breve e por isso temos a obrigação de ser felizes e só conseguimos sê-lo quando reconhecemos o momento que desfrutamos como bom para morrer, pois esse será um daqueles tão raros em que nada mais nos falta e nada mais nos sobra.


DIA O

ANO 0
aj carneiro

09/02/10

Não há nada que se compare ao momento extraordinário em que tocamos pela primeira vez a mão de alguém

MRP


Hà uma mulher que me procura no espírito das horas lunares




Há uma mulher que me procura no espírito das horas lunares
que me atira o olhar como um beijo entre os lábios
que me estende os cabelos para eu atravessar o abismo,
expõe o seu coração de fêmea para a inclinação do meu sangue.

Preparo o ventre para beber dela toda a ternura,
Sofro da fadiga de uma viagem atormentada por silêncios.

Eu quero e não quero vê-la para lá do seu perfume
porque ela é tangível como uma fonte de água fresca
porque ainda me prendo na distância de outro sol.

Há uma mulher que é como um pássaro que me tranquiliza
quando a toco na noite que nos cede o instinto
com as palavras que lhe caminham sobre a sua vulva.
Ela anseia pelas sílabas da minha solidão amargurada,
e felina, aguarda pacientemente por meu sexo ferido
apertando as suas coxas no contorno do fogo.

Há uma mulher praia de areia fina e seixos rolados
e eu na onda da madrugada já demoro de encontro a ela.


AJ Carneiro

foto retirada do Google

03/02/10

a verdadeira ciência

-Mestre.
-Que desejas?
-Aprender a ciência.
-Puxa a corda deste fole.-disse-lhe o mestre ferreiro.

Puxou a corda de sol a sol, durante um ano, sem que ninguém lhe dirigisse a palavra.

-Mestre.
-Que queres?
-Quero a ciência, mestre.
-Puxa a corda.

Passaram mais cinco anos, silenciosos.